Gênio Redescoberto : Nikola Tesla Fica Pop

Gênio redescoberto: Tesla fica pop

Novos fãs, livros e homenagens promovem resgate do legado de Nikola Tesla e conseguem doação de US$ 2 milhões para o 1º museu americano sobre o inventor, que amargou um século de ostracismo


E 2013, num campeonato estilo Copa do Mundo realizado pelo site GeekWire, Albert Einstein, Bill Gates e Isaac Newton ficaram pelo caminho. O improvável nome de Nikola Tesla (1856-1943) bateu todos na preferência dos internautas, e ele foi eleito “o maior geek de todos os tempos”. A vitória é mais um episódio na onda de redescoberta de um dos maiores — e mais excêntricos — gênios da ciência.
Após um ostracismo de quase um século, Tesla ganhou recentemente uma estátua no Vale do Silício, terá um museu de US$ 2 milhões financiado por fãs, além de ser tema de vários livros (5 biografias sobre ele foram reeditadas em 2013) e uma série de homenagens. 
A “Teslamania” ganhou força em 2012, após o cartunista Matthew Inman fazer sucesso com a tira “WhyNikola Tesla wasthegreatestgeekwhoeverlived” (Por que Nikola Tesla é o maior geek que já viveu). A história rendeu uma campanha de fãs, que financiou a compra do terreno do antigo laboratório e a construção do primeiro museu sobre ele nos EUA — queainda deve demorar 5 anos para ficar pronto. 
É mesmo difícil pensar em alguém que resuma tão bem o que é ser geek. Tesla viveu sozinho quase a vida toda, não se dava bem com as mulheres, era fascinado por contatos alienígenas e, se alimentando de biscoitos recheados (a junkfood da época), passava horas intermináveis trabalhando. E era um estudioso dedicado, capaz de desafiar o próprio Einstein (veja ao lado).
Antes de cair no esquecimento, o sérvio, nascido em 1856, alcançou fama e fortuna, sendo mundialmente conhecido no início do século 20. Tesla estudou engenharia elétrica na Áustria e na República Checa e trabalhou em oficinas na Europa antes de se mudar para os Estados Unidos, em 1884, sendo contratado por Thomas Edison, já então o inventor mais famoso do mundo por ter criado a lâmpada.  Tesla criou para Edison dínamos e motores capazes de usar a corrente alternada — que permite a transmissão de energia a longa distância sem grandes perdas. Mas o inventor americano, dono das patentes de corrente contínua (sistema que abastecia os EUA, só eficiente para distâncias curtas), rejeitou a ideia. Foi o início da “guerra das correntes”, que definiu o sistema de energia no mundo e permitiu que todos possamos usar aparelhos elétricos longe das usinas.
O sérvio também criou a primeira hidrelétrica, o controle remoto e fez a primeira imagem em raio X, entre outros inventos (vire a página para saber mais). Disputa até hoje com o italiano Guglielmo Marconi a paternidade do rádio. No total, deixou 300 patentes. “Ele foi o maior arquiteto da era moderna”, diz o biógrafo Marc Seifer, autor de Wizard: Life and Times ofNikola Tesla (Mágico: a Vida e a Época de Nikola Tesla, não lançado no Brasil). Apesar disso, morreu pobre e esquecido em um quarto de hotel de Nova York.
ARTISTA: A fama de “cientista mágico” de Tesla era alimentada por performances em que enchia teatros para demonstrar inventos, como as bobinas que criavam raios de eletricidade no ar (Foto: Revista Galileu)
Parte do esquecimento se deve à personalidade do inventor. Muitas de suas ideias existem apenas como projetos ou não foram anotadas. Como tinha memória fotográfica, capaz de decorar livros inteiros, não raro criava inventos mentalmente para só muito depois registrá-los. Quase sempre trabalhando sozinho, costumava abandonar um projeto por outro sem produzir um protótipo. Dois grandes incêndios destruíram equipamentos e papéis em seus laboratórios, impedindo que realizasse antes de Marconi a primeira transmissão de rádio.
Mas o fundamental foi o fracasso do projeto da Torre Tesla, uma construção de 68 metros de altura em Wardenclyffe, no estado de Nova York, onde pretendia transmitir eletricidade — e sinais de telefone e de rádio — sem fio e de graça. De 1901 a 1905, patrocinado pelo banqueiro J.P. Morgan, Tesla realizou experimentos no local, mas a falta de resultados começou a trazer críticas. Morgan desistiu do apoio por não ver como lucrar com a transmissão de energia grátis. “Quando ele decidiu encerrar seu financiamento, Tesla foi incapaz de manter o projeto e então seu nome desapareceu”, diz Seifer. Em 1917, sem dinheiro, o cientista teve de entregar a torre ao Hotel WaldorfAstoria para pagar dívidas de hospedagem. No mesmo ano, temendo espionagem alemã, o governo dinamitou o projeto.
O fracasso teria sido uma das causas da degeneração mental do inventor. Ficaram evidentes sintomas do que hoje é identificado como transtorno obsessivo compulsivo, como a preferência por coisas divisíveis por três e a mania de lavar sempre as mãos. No imaginário popular, passou a chamar mais atenção por ideias esquisitas, como construir uma arma de raios para acabar com a Segunda Guerra, do que pela ciência.
Quando morreu, o governo americano tomou posse de seus pertences e examinou-os por 9 anos até entregá-los à família, em 1952. Nas seis décadas seguintes, o nome de Tesla caiu no ostracismo. Nos EUA, país que ajudou a eletrificar, os créditos eram todos para Edison, ironicamente, o maior inimigo da corrente alternada.
Parecia que ele continuaria no limbo até que um filme de Hollywood, O Grande Truque (2006), o trouxe de volta. A obra narra como verdadeira uma de suas histórias mais famosas, de que teria iluminado um campo de 200 lâmpadas sem nenhum fio e com o gerador ligado a 40 quilômetros — façanha ainda hoje controversa. No mesmo ano, ele apareceu no romance Contra o Dia, do americano Thomas Pynchon. Com fãs declarados como Larry Page, co-fundador do Google, e o diretor Terry Gilliam, o culto a Tesla só cresceu nos últimos anos. 
“Ele é um inventor do século 21. Muitas das questões que colocou, como a energia e internet sem fio, carros elétricos e robôs, a ciência ainda tenta resolver”, diz o russo Boris Petrovic, parente da irmã do gênio e presidente do Instituto Nikola Tesla, que realiza pesquisas sobre a transmissão de energia magnética em Brasília.
EXAGEROS
Na reavivada Teslamania, o cientista passou a ser descrito como um superinventor, criador do radar, raio X, laser, lâmpadas fluorescentes, rádio, um tipo de helicóptero, controle remoto, a tal forma de transmitir eletricidade sem fio, micro-ondas, um projeto de smartphone e a hipotética arma de raios.
Não é bem assim. Para ficar em dois exemplos, Tesla realmente produziu a primeira imagem em raio X, mas o alemão Wilhelm Röntgen, quase ao mesmo tempo, chegou à mesma descoberta e produziu primeiro um aparelho. Se ele também criou, para a Feira de Chicago, em 1893, tubos fluorescentes, demorou 42 anos até uma dupla de engenheiros da GE, George Inman e Richard Thayer, chegar a um formato de lâmpada que pudesse ser usada.
DESCUIDADO:Ele criava dezenas de invenções em seu laboratório, mas muitas ficavam sem registro (Foto:  )
“A cultura pop tem exagerado Tesla e suas realizações porque quando a economia está fraca nós nos voltamos para visionários como ele e Steve Jobs, que prometem tecnologias novas erevolucionárias”, diz outro biógrafo, Bernard Carlson, autor de Tesla: Inventor oftheElectrical Age (Tesla: Inventor da Era da Eletricidade, não lançado no Brasil).
Outro equívoco tem sido retratar Thomas Edison como um vilão — um empresário inescrupuloso — em contraponto a um Tesla que agia em nome da pureza da ciência. “A verdade”, diz Carlson, é que “mais do que criar empresas que fabricassem seus inventos (a tática de Edison), Tesla preferia patenteá-los, promovê-los e então vendê-los a investidores ou homens de negócios.”
Mas também é verdade que, um século depois, Tesla está vencendo Edison novamente. A lâmpada incandescente de Edson começa a desaparecer, sendo substituída pela fluorescente, mais econômica e durável, criada a partir de uma ideia do sérvio. “Edison faz parte do século 20. É como Henry Ford, o inventor do automóvel”, diz ainda Carlson.  “Se estivesse vivo hoje, Tesla estaria na vanguarda. Certamente estaria trabalhando para o Cern (o laboratório europeu de pesquisa nuclear) ou no Vale do Silício”, diz o biógrafo Marc Seifer. 
Os US$ 2 milhões arrecadados pelos fãs até 2013 permitiram comprar a propriedade de Wardenclyffe, onde ainda se encontra intacto o prédio do laboratório de Tesla, e vão ser usados para erguer o museu. Além disso, contribuições de US$ 127 mil pela web já ajudaram a construir uma estátua do gênio no Vale do Silício e um grupo de fãs pretende construir uma nova Torre Tesla na Sérvia para prosseguir com seus estudos. A Teslamania continua.

BOM DE BRIGA
Entenda as disputas entre Tesla e outros grandes cientistas do seu tempo
THOMAS EDISON > Tesla recebeu dele a promessa de US$ 50 mil (US$ 1 milhão hoje), caso obtivesse bons resultados. Ao ser cobrado, o patrão respondeu: “Você não conhece o humor americano”. O sérvio demitiu-se e vendeu as patentes ligadas à corrente alternada (AC). Edison tentou eletrocutar animais com AC para desacreditar a tecnologia.
GUGLIELMO MARCONI > Eles criaram o rádio ao mesmo tempo, mas Marconi fez a primeira transmissão e ficou com os louros. Tesla acionou o Escritório de Patentes dos EUA dizendo ter sido o inventor. Trinta anos depois,já quando Marconi tinha um processo contra os EUA por quebra de patentes, a Suprema Corte deu razão a Tesla, evitando que os EUA pagassem a conta.
ALBERT EINSTEIN > Defensor do que batizou de “teoria dinâmica da gravidade”, Tesla esnobou Einstein. “A teoria (dele) é como um mendigo vestido de púrpura que as pessoas ignorantes levam para um rei”, chegou a dizer. Einstein, um admirador de Tesla, venceu. A maioria dos cientistas até hoje rejeita a teoria dinâmica de Tesla como impraticável.
 (Foto: Revista Galileu)
 (Foto: Revista Galileu)
Fonte:http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2014/03/genio-redescoberto-tesla-fica-pop.html
 (Foto: Revista Galileu)

Fonte:
CURA QUÂNTICA
GÊNIO REDESCOBERTO : NIKOLA TESLA FICA POP
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